Hoje vou “Mentir a verdade, trair o segredo...” tal qual
Nelson, um menino que ver o mundo pelo buraco da fechadura. Um verdadeiro “anjo
sedutor, obsceno e sem pudor”. Nesta burra unanimidade social, onde o imoral torna-se
legal e meus desejos tarjados como “eloquentes e inconsequentes”. À noite
matarei a saudade de Suzana, da sedutora do lotação e da honesta viúva. Das
fantasias cariocas, caricatas ou reais, serei este menino perene imaturo, mas
fiel a quem me trai, envolvido pela “flor de obsessão”.
Das verdades apenas as boas, das mentiras somente as
sinceras, pois aqui elas interessam. “A mulher que amou de mais”, “o óbvio
ululante” e a irreverente “cabra vadia” com suas novas confissões são retratos
desta pátria que finge usar chuteiras, mas que se acostumou mesmo a ser
enganado. Viva o brasileiro, este imenso feriado que lampeja poder sambar nu em
liberdade.
Aqui sentado aguardo, um toque genial, algo sensacional, ou atuações
emanadas do sobrenatural de Almeida, que ainda estar a nos assustar. De cara
pintada como um Pierrô de arquibancada vendo em festa nesta nova morada as
batalha não mais em pó de arroz, que rapidamente são interrompidas pelas
palavras desmedidas ao vilão mascarado com seu apito a empunhar.
Admirando mais um contemporâneo teatro, desse ardente país
amordaçado pelas flanelas de novas censuras. Onde o “politicamente” se diz
correto e mesmo não confiando em nada “político”. Assim em saudades a frases
marcantes me vejo a devanear ações em segredo para os tolos não me tolher. E
mesmo sabendo que tudo deve partir, fico a fingir poder ao lado dele um dia
beber. Esperando saborear a critica, que já seria imortal, neste submundo
real, que tentamos sobreviver.
Nelson Rodrigues centenário, mas atual.
Leandro Ramos