terça-feira, 25 de março de 2014

Vento Rodriguiano

Hoje vou “Mentir a verdade, trair o segredo...” tal qual Nelson, um menino que ver o mundo pelo buraco da fechadura. Um verdadeiro “anjo sedutor, obsceno e sem pudor”. Nesta burra unanimidade social, onde o imoral torna-se legal e meus desejos tarjados como “eloquentes e inconsequentes”. À noite matarei a saudade de Suzana, da sedutora do lotação e da honesta viúva. Das fantasias cariocas, caricatas ou reais, serei este menino perene imaturo, mas fiel a quem me trai, envolvido pela “flor de obsessão”.
Das verdades apenas as boas, das mentiras somente as sinceras, pois aqui elas interessam. “A mulher que amou de mais”, “o óbvio ululante” e a irreverente “cabra vadia” com suas novas confissões são retratos desta pátria que finge usar chuteiras, mas que se acostumou mesmo a ser enganado. Viva o brasileiro, este imenso feriado que lampeja poder sambar nu em liberdade.
Aqui sentado aguardo, um toque genial, algo sensacional, ou atuações emanadas do sobrenatural de Almeida, que ainda estar a nos assustar. De cara pintada como um Pierrô de arquibancada vendo em festa nesta nova morada as batalha não mais em pó de arroz, que rapidamente são interrompidas pelas palavras desmedidas ao vilão mascarado com seu apito a empunhar.
Admirando mais um contemporâneo teatro, desse ardente país amordaçado pelas flanelas de novas censuras. Onde o “politicamente” se diz correto e mesmo não confiando em nada “político”. Assim em saudades a frases marcantes me vejo a devanear ações em segredo para os tolos não me tolher. E mesmo sabendo que tudo deve partir, fico a fingir poder ao lado dele um dia beber. Esperando saborear a critica, que já seria imortal, neste submundo real, que tentamos sobreviver.
Nelson Rodrigues centenário, mas atual.


Leandro Ramos